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Por que tentar ser publicado tradicionalmente pode ser ruim?



Já falei algumas vezes aqui no blog que editoras são empresas e como tal elas necessitam de receita para se manter, gerar empregos, lucro e tudo mais; não há nada de erado com isso, mas vou dividir com vocês uma experiencia real ocorrida comigo; na verdade foi mais como um experimento que fiz para demonstrar como tentar ser publicado por uma editora tradicional pode ser uma experiencia não tão boa para autores iniciantes.

Fazendo minhas pesquisas na internet em busca de material relevante sobre o qual eu pudesse escrever no blog, deparei-me com o anúncio de uma editora tradicional pedindo para autores mandar seus originais com vistas a serem analisados para uma possível publicação; o anúncio dizia o seguinte: 

"Agora ficou muito mais fácil ter uma obra sua publicada pela editora ...! Basta escolher uma das opções e nos mandar seu material."

Quando vi este anúncio, me ocorreu fazer uma experiência para comprovar algo que tenho falado aqui no blog. Então o que fiz? Verifiquei o anúncio e dentre as opções disponibilizadas para envio de originais, eu escolhi o e-mail. Mandei um de meus originais em anexo de acordo com os parâmetros estabelecidos no texto do anúncio na página da editora; depois disso aguardei.

Um dia depois recebi a resposta com um documento da editora intitulado "Edição compartilhada"; neste documento a editora detalhava como se daria a publicação do meu original caso ele fosse aprovado. Basicamente a proposta editorial consistia em: A editora produziria uma primeira tiragem de 2000 exemplares dos quais 1000 teriam de ser adquiridos por mim e cujo pagamento poderia ser feito em até dez parcelas ou com 10% de desconto para o pagamento à vista. Os 1000 exemplares adquiridos por mim seriam para que eu pudesse recuperar o investimento feito, vendendo-os eu mesmo, enquanto que a editora ficaria responsável por comercializar os demais, distribuindo-os nas livrarias e divulgando em redes sociais e feiras.

O pacote, segundo a editora, incluiria: Profissionais especializados em preparação de texto (copidesque, revisões, padronização e normalização de originais); projeto gráfico (criação de capa e miolo); diagramação e editoração eletrônica, ilustrações elaboradas por profissionais capacitados, Registro no ISBN,  Catalogação na Câmara Brasileira do livro (CBL),  Convite Virtual, Banner,  Marcadores de Paginas, Release da Obra, Selo Editorial, Divulgação nas redes sociais (instagram, facebook, sites e blogs literários, skoob), Sorteios nas redes sociais, Divulgação para imprensa, Distribuição em sua rede de clientes conforme demanda e Participação em quanto durar o contrato em feiras e Bienais que a Editora participar. 

Em seguida o documento listava 15 vantagens pelas quais um autor deveria fazer uma edição compartilhada; e são elas: 

1- Com a venda dos 1.000 exemplares o autor recupera seu investimento.
2- Fazer parte do catálogo da Editora e isso dará visibilidade ao autor e a obra.

3- Os 1.000 exemplares são distribuídos e com isso o autor terá posição no mercado livreiro.

4- Cadastro da obra em sites de e-commerce o que maximiza a busca na internet de autor e     livro.

5-  A editora paga todo o frete sobre distribuição e venda dos livros remanescentes.

6- Disparo do release da obra para mais de 30.000 veículos através de nossa  assessoria de imprensa.
7- Fazer parte de um selo editorial reconhecido no mercado nacional e estrangeiro.
8- Participar de eventos e feiras que a Editora participar.
9- Confecção de formato e-book.
10- A divulgação em redes sociais da Editora.
11- Divulgação e parceria com blogs e sites do seguimento.
12- Marcação de autografo em livraria.
13- Apresentação do livro no PDV através de nossos divulgadores/representantes.
14- Realização de sorteio do livro nas redes sociais.
15- Disparo de release e informativo de lançamento 100 blogs parceiros da editora.
16- A partir da segunda obra entra como autor tradicional se em 3 meses apurarmos  40% dos livros vendidos.


Tudo isso é, sem dúvidas, uma boa parte do que um autor iniciante deseja para seu livro e para sua carreira como escritor; não é? Ótimo. Dois dias depois recebi um novo e-mail com os valores para a publicação de meu livro; neste novo documento a editora dizia que a tiragem inicial não seria mais de 2000 exemplares, mas sim de 1500; e que eu deveria adquirir 500; sem dúvidas uma boa notícia; constava também um lembrete de todos os benefícios e vantagens que eu teria se fechássemos contrato; e, finalmente trazia o preço que tudo isso custaria; o valor era de R$ 15.000 (quinze mil reais).
Agora vamos a pergunta que motivou esta postagem: Por que tentar ser publicado por uma editora tradicional pode ser ruim?
Porque para a maioria dos autores iniciantes o primeiro entrave pode ser o valor cobrado para ser publicado por um selo tradicional; a grande verdade é que grife custa mais; portanto começar sua carreira como escritor(a) adquirindo um passivo, ou seja, uma dívida como esta não me parece uma boa estratégia; não estou discutindo aqui o mérito de se é caro ou não; porque quinze mil reais podem ser caro para uns e não para outros, mas na média este é um valor de investimento elevado.
Se um autor iniciante fizer este investimento de R$15.000 e adquirir os 500 exemplares terá de fazer uma matemática simples para saber por quanto deve vendê-los unitariamente, ou seja, R$15.000/500 que será igual a R$30,00 (trinta reais). Para lucrar algo com todo o esforço que está despendendo o autor iniciante terá de agregar algum valor a este custo unitário. Lembre-se que tenho defendido que os autores não sejam apenas escritores, mas sim que procurem ter uma visão mais empreendedora de seus projetos e de sua carreira
É certo que todo autor deve aprender e se acostumar com vender seu próprio livro e se elaborar uma estratégia de vendas inteligente precisará de um valor muitíssimo inferior aos quinze mil reais para transformar seu livro em realidade. Com o auxilio da internet, ele poderá obter mais de 500 vendas (entre versões digitais e físicas de seu livro). Eis um exemplo: Contratando profissionais ou empresas independentes, on-line, que produzem livros em formato digital e disponibilizam em lojas como o Google play, Amazon e outras; assim como gastando valores muito inferiores com propaganda controlada no próprio Google e Facebook, um autor pode conseguir muitas visualizações downloads e até vendas; na pior das hipóteses seu livro começará a ser visto por leitores espalhados na rede; e suando a técnica da isca digital (tratarei do tema isca digital em outra postagem) certamente conseguirá os leitores de que precisa.

Tentar ser publicado tradicionalmente pode ser ruim porque você pode acabar tendo de gastar uma quantia considerável que não lhe dará nem mesmo poucas garantias de que sua obra terá o tratamento necessário para penetrar no mercado e atingir os seus leitores, mesmo com os benefícios apresentados na proposta de edição compartilhada. Não jogue para tentar vencer, jogue para vencer, e a melhor forma de fazer isso é com estratégias inteligentes e bem definidas para seu livro como um projeto. 

Então, para concluir:

Antes de desembolsar qualquer quantia verifique se realmente será um bom investimento e se existe a possibilidade real de que aconteça um retorno considerável, principalmente para você, de acordo com o seu planejamento como autor e promotor da obra.
Algo importante a ser dito é que nem todas as editoras tradicionais trabalham desta forma, algumas arcam com todos os custos de produção de um projeto livro, mas estas tendem a ser muito mais criteriosas e costumam apostar em autores iniciantes apenas quando a probabilidade de que o projeto dê um mínimo de retorno esperado é mais sólida; portanto se você não abre mão de ser publicado por uma editora tradicional logo no princípio, seja criterioso na escolha daquela para a qual você vai enviar seus originais.

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